Eu sou a 100ª ovelha

"...o Filho do Homem veio salvar o que estava perdido" (Mateus 18:11).

"...o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido" (Lucas 19:10).

Uma das parábolas mais conhecidas que Jesus contou foi a que fala das 100 ovelhas, dentre as quais uma se perdeu. A parábola é interpretada de variadas formas. Mas eu gosto de me imaginar como sendo aquela 100ª ovelha, a única que se desgarrou do rebanho, e pela qual o Pastor, o Bom Pastor, fez todo esforço para trazê-la de volta. Jesus é enfático ao dizer que, após ter encontrado a ovelha perdida, o Pastor se alegrou e a conduziu para casa, cheio de júbilo, porque havia resgatado uma de suas mais preciosas "amigas".

Sim, porque para o Bom Pastor a ovelha não é um mero animal, um simples objeto de lucro... não! Ele a vê como um ser vivo, alguém que tem sentimentos, que tem valor para ele, um valor que transcende ao financeiro.... Ele a ama!

A lição da Escola Sabatina de alguns anos atrás nos fez lembrar sobre a EXPIAÇÃO NA CRUZ (4º trimestre de 2008), revelando para nós um pouco do terrível resultado físico, mental e espiritual que o Sacrifício de Jesus trouxe sobre Ele, ao aproximar-se o momento da Sua entrega.

Em meio às expressões gregas, por vezes "teológicas" demais, é possível ver o quanto o nosso Deus investiu para nos resgatar das garras do pecado. O preço pago foi muito, muito elevado, e o próprio Criador do Universo teve que suportar a angústia, o cálice da ira, as trevas, o temor, o abandono... e a própria morte!

Lembro-me da letra de uma bela canção do nosso irmão Nadson Portugal:
"Quem é este Homem? Por que me ama assim?!"

Frequentemente me "pego" meditando sobre a grandeza do amor de Deus por mim, um miserável pecador. Mesmo sem merecer, mesmo sendo tão falho, mesmo rejeitando tantas vezes este amor... ainda assim o meu Pastor não desistiu de mim! Ele esteve lá, desde o gelado Getsêmani até a terrível Cruz, e em nenhum momento sequer pensou em desistir de mim. Eu era a 100ª ovelha, e precisava ser trazida de volta. No livro "Desejado de Todas as Nações" é-nos revelado que Jesus decidiu salvar o homem (eu, Gilson Medeiros da Silva), "custasse o que custasse de Sua parte". Que amor é esse?!

E as outras 99 ovelhas?

Eu fico imaginando qual terá sido a reação das outras 99 ovelhas, quando o Pastor trouxe a perdida de volta. O texto não diz... mas, como elas simbolizam seres humanos na parábola (ou mundos não caídos), é possível imaginar que nem todas se alegraram com a chegada da "rebelde". Afinal, foi ela mesma a culpada, por não ter permanecido junto do rebanho! Preferiu ir por outro caminho, então que suportasse as consequências! Ora, o Pastor deixou todas elas, sozinhas, no frio e perigoso deserto para se desbravar pelos campos em busca de uma única rebelde. Até parece que ela era a preferida dEle... a queridinha! E se um lobo aparecesse enquanto Ele estivesse fora? Quem as protegeria? Elas tinham motivos para receberam a 100ª com desdém, indiferença e ira.

E o pior de tudo é que o Pastor chegou todo arranhado, todo machucado, havia passado a noite sem dormir, à procura daquela rebeldezinha, mas agora estava feliz por tê-la encontrado. Elas nunca O tinham visto tão contente. E isso deixou muitas das outras ovelhas com ciúmes... "Por que ela não ficou lá no deserto?", algumas devem ter "desejado".

E o irmão mais velho?

É curioso como nesta sequência de parábolas sobre algo que se perdeu (cf. Lucas 15), Jesus também acrescentou detalhes na do "Filho Pródigo" que nos mostram o quanto o irmão mais velho dele ficou chateado com sua volta. Afinal, por que o Pai estava tão contente com o retorno daquele filho ingrato e esbanjador? Ele, o mais velho, não era suficiente? Por que ainda gastar o dinheiro que restou com uma festa em homenagem a uma pessoa tão desprezível como aquela?!

Em ambas as histórias são usados seres vivos (ovelhas e pessoas) para representarem uma só lição: a de que Deus nos ama com um amor tal que faz de tudo para nos ter de volta.

E nós?

Eu também fico a imaginar como, muitas vezes, temos agido como as ovelhas ciumentas ou como o irmão mais velho... não sentimos a mesma alegria pelos que Jesus consegue resgatar das garras do inimigo. Verdadeiras lutas são travadas por nosso Senhor para trazer de volta um filho querido, e nós o tratamos com desprezo, críticas e desconfiança.

Quantas e quantas vezes nós já não abandonamos pelo meio do caminho aqueles "irmãos" (?) e "irmãs" (?) que preferiram se desgarrar do rebanho!? Até seus nomes fazemos questão de esquecer... 
Aproveite para lembrar agora mesmo, sim, agora, os nomes de alguns que estiveram do seu lado nos cultos de sábado, e hoje lá não mais estão...

Quantas e quantas reuniões de Comissão não ocorrem com o objetivo único de disciplinar os que se extraviaram!? Trabalho missionário? Crescimento espiritual? Que nada! O importante é "devorar" a carne dos pecadores... chamar o pecado pelo seu nome exato!!!

Quantos e quantos sermões não são pregados a cada semana apenas com o objetivo de atacar, chicotear e humilhar alguém que esteja em erro!? Pregar sobre a graça o o amor de Deus? Pra quê?!

Ao refletir sobre o extremo preço que Jesus pagou por nós, eu cheguei à conclusão de que não temos a mesma alegria que Ele tem ao ver pessoas deixando o mundo do pecado e tentando caminhar para a Luz. Nossa hipocrisia não permite!

Pregamos infinitas vezes sobre perdão e misericórdia, mas praticamos pouquíssimas (raríssimas, até!) vezes isso em nossas vidas...

Falamos da importância do amor e da comunhão entre os irmãos, mas não pensamos duas vezes antes de nos unirmos para fofocar ou desdenhar deles...

Dizemos que a igreja é um "hospital", onde todos estão doentes e precisam de cura, mas nossos atos revelam que nos consideramos mesmo como os Diretores da Instituição, com o "poder" de definir quem fica ou quem deve deixar a enfermaria... e morrer à míngua no "corredor"... É a "Igreja SUS".

E quando algum se perde?! Ai é que nosso "amor de mentirinha" se revela...
Abandonamos o irmão; deixamos que ele colha os frutos do seu próprio mau procedimento... já não o visitamos mais... não mandamos um e-mail... não gastamos os bônus do celular ligando para ele... não enviamos um zapzap... nada!

Uma vez eu ouvi alguém dizer que "a igreja é o único exército que abandona seus feridos no campo de batalha", e o "engraçado" foi que esta mesma pessoa (líder de uma Missão no Nordeste, nos idos de 2007) agiu assim quando teve oportunidade de recolher um ferido, colocá-lo em seus ombros, e levá-lo à enfermaria.... nós somos assim! Infelizmente!

Perdemos horas e horas em disputas tolas sobre doutrinas, profecias, chips, marcas, selos, trombetas, bateria, teologuês, etc... mas somos incapazes de dedicar alguns minutos para ajudarmos o Pastor, o Bom Pastor, a trazer de volta aquela 100ª ovelhinha... Preferimos ficar "quentinhos" na companhia das outras 99, e deixar que Ele faça todo o trabalho sozinho.

Para quê tem servido a igreja, então?

Tenho certeza que bem perto de você há uma 100ª ovelha que está desejosa de voltar, às vezes ela apenas não sabe como fazer isso. Ou tem vergonha de fazê-lo...

Por que você não quebra este "paradigma", esta cultura da indiferença, e se une ao nosso Bom Pastor para trazer de volta para o rebanho esta por quem Ele deu o próprio sangue?

"Nisto conhecerão todos que sois Meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros" (João 13:35).


Comentários

Anônimo disse…
Prof. Gilson,
Essa é a minha primeira postagem no ano de 2010.

No ano que passou (2009) tive o privilégio de escrever alguns comentários, inclusive um "particular".

Ficamos ausentes por uns dias, pois, ninguém é "de ferro", merecemos uma pausa.

Recomeçando então, quero comentar sobre o seu texto " Eu sou a 100º ovelha."

Tenho uma observação: Tudo o que você escreveu é fiel e verdadeiro.

Todos nós em algum momento da vida, nos distanciamos do "Aprisco do Bom Pastor.", e como ovelha temporariamente perdida, nos sentimos desanimados, sensíveis, e por que não dizer magoados até.

Nessa circunstancia, mais do que nunca necessitamos do apoio, do carinho, da atenção do "Pastor".

E por anda o Pastor?

Anda muito ocupado. São tantas "atividades", que o trabalho mais importante (resgate das ovelhas desgarradas)fica para um segundo plano.

É impressionante como todos os pastores, eu digo "todos", nunca tem tempo. Ora é "uma coisa" ora é outra, e as ovelhas do rebanho (não uma somente)mas muitas, acabam se desgarrando e ficam à mercê da própria sorte.

Tenho observado que já não há mais pastores como antigamente.

Uma boa parcela dos se "formam em teologia", não são vocacionados.

Trata-se apenas de uma profissão.

E para o adventista uma profissão realmente vantajosa.

Veja porque:

- Nunca terão problemas para guardar o sábado.

- Muitos beneficios (plano de saúde, odontológico, ajuda de custo no aluguel, no combustível, facilidades na aquisição de veículos, e por ai vai...)

- A maioria dos que são "pastores" vem das familias (verdadeiros clãs) tradicionais nos arraiais adventistas.

São poucos (da pra contar nos dedos, e ainda sobra dedo) os que são verdadeiros "Pastores".

È o seu caso por exemplo.

Como você mesmo confessou. Foi com muita dificuldade que conseguiu se formar.

Essa crítica não é direcionada apenas aos pastores, mas também à membresia. Porém, o que se vê é uma cópia fiel da liderança. Os membros agem como agem os seus lideres.

Prof. Gilson, desculpe o desabafo, mas é preciso.

Estamos no comecinho do ano. Vamos batalhar juntos para que alguma coisa mude. Entra ano e sai ano e tudo fica como está, ou pior.

Parabéns mais uma vez pelos seus textos.

Que o Eterno te abençõe.

Feliz 2010.

Marcos.
Gilson Medeiros disse…
Prezado Marcos, respeito seu ponto de vista, e sei que alguns pastores realmente agem como "gerentes distritais" apenas.

Mas acho que você foi muito "generalista", pois a maioria dos pastores que conheço são homens que dedicam sua vida ao ministério de salvar almas. Lembre que, assim como na parábola, o pastor não pode ficar todo tempo APENAS cuidando das ovelhas. É necessário deixá-las no aprisco para sair em busca de outras, perdidas, desgarradas.

E quem ficou tomando conta das 99 ovelhas? Onde elas ficaram? Ficaram à mercê dos lobos devoradores?

Não.

A igreja também precisa assumir seu papel de cuidar do rebanho. Afinal, todos (inclusive os pastores) são ovelhas neste grande rebanho do Senhor.

Anciãos, Diáconos, professores, diretores, etc., todos são responsáveis em cuidar do rebanho, visitando, orando, intercedendo, aconselhando, orientando, etc.

Não podemos esperar que os pastores façam todo o trabalho.

Como eu disse antes, sei perfeitamente que alguns não têm cumprido seu "pastorado" como deveriam, mas o Supremo Pastor sabe de tudo isso, e intervém no momento adequado.

Um abraço, e feliz 2010!
irmão leitor disse…
Temo que as 99 estejam reuninas em comissão: "quando aquela umazinha voltar, vamos tirar a pele dela!"

Irmãos, eu jamais faria propaganda para alguém sair do aprisco; porém, falo com absoluta certeza: se algum dia você sair, tenha certeza que Deus o ama, e tem um desejo enorme que você retorne, porque foi pra isso que Cristo Jesus deu a Sua vida; foi justamente para que você encontrasse o acesso livre e seguro para os braços do Pai.

Sonho com o dia em que a comissão estará reunida dizendo: "oremos em favor da perdida; tomara que o Pastor a encontre, e a traga de volta!"
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Lembremos, no entanto, que nós todos somos a perdida, que foi achada...
Iran disse…
Essa parábola foi o "0lhar de Jesus em direção a Pedro" para convencer e levar minha esposa ao batismo. Ela entendeu o perdão e o amor de Deus indo ao seu encontro, quando não havia conseguido cumprir um voto e sofria internamente. Na conversa com o pastor da igreja disse, então, que pouco se importava com os outros, pois caminharia para abraçar a Deus naquele ato de reconciliação.
A.K.Renovatto disse…
Excelente o artigo! Realmente é de causar espanto saber que muitos não se alegram com o retorno de um pecador aos caminhos do Senhor. A tendência de se julgar superior, mais santo e cristão, faz com que muitos menosprezem o arrependimento e volta da "ovelha" perdida. Jesus é diferente e recupera a ovelha perdida com amor, misericórdia! As igrejas em geral têm deixado a desejar e talvez por isso, muitos não querem religião. Muitos dizem que religião separa pessoas. Mas sabemos da importância de estar com irmãos, congregar, só que as pessoas que olham de fora, enxergam muitas vezes a falta de amor, falta de união e isso tem prejudicado muito o trabalho da Igreja de Cristo. Devemos orar para que Deus venha colocar mais amor nos corações, mais compaixão pelo próximo, assim, pessoas verão a diferença e sentirão desejo de se juntar a "fileira" de cristãos. Parabéns pelo texto tão bem abordado! Deus o abençoe.